Vácuo

olhou praquele rosto de tantas lágrimas e risos e beijos e gozos e nada viu além do vácuo chato que fazia vista grossa a um passado que tinha medo de tornar-se justamente essa zona de emoções sedimentadas e inacessíveis que agora traziam o terror das coisas que passam e convidam para que junto delas passemos donde estamos pra onde já não seremos. olhou e tentou desenterrar coisas perdidas na dobra dos dias, mas estava além de suas forças. sentiu o torpor, o desespero. mais um fim, como tantos fins... sonhara com o momento em que se libertaria, mas liberdade não tinha gosto bom. tinha gosto de vela, de chuva, de crepúsculo dominical. não é assim, não é assim!, ela dizia, seremos felizes. mas as frases quebravam longe da praia. queria até dizer sim, seremos, perpétuos e felizes, mas olhava praquele rosto de tantas festas e luas e missas e orgias e via: estou só. via que a solidão era a única coisa permanente, que o vazio cedo ou tarde lhe visitaria com seu hálito mórbido e suas palavras sensatas. dizia adeus porque já tinha ido. há tempos. dizia adeus para si, mas as lágrimas dela velavam pelos dois.

2 comentários:

Adriana Gehlen disse...

olhou praquele rosto de tantas lágrimas e risos e beijos e gozos e nada viu além dum vácuo chato que fazia vista grossa"

incrível
chato isso
tive saudade

Anônimo disse...

mas um fim é sempre um fim. e sempre as lágrimas. mesmo sempre contando com o vazio.


hasta!