Chove

E chove. Que o mundo se desfaça! Em pedaços, muitos, miúdos e odiosos. Desça sobre nós como lâminas tuas gotas, nos rasgue, nos fatie, nos lave da mentira. Foi-se mas deixou a chuva, na qual me perco, no aconchego frio, na doçura do fim. Levou no sorriso minha fé, mas deixou o rufar das trovoadas, no qual me acho. A chuva é a verdade! O crepitar das gotas no chão musicalizam o que antes era dor. Nos pingos-música, notas de ameaça, notas de promessa. Liquefeito, me desfaço no mundo, me diluo até não ser água sequer. Líquido, sou tua chuva de lágrimas que decretam a morte, saliva quente do teu beijo fatal. Chove e lava o mundo!, cobre o chão de prata e o céu de cinza fosco, nos livra do mal, afogue-a em correntes bravias. Faz-me chuva! E choverei com vigor, castigarei a cidade, inundarei as casas. Vai! Corre porque tenho a chuva! Liquefarei o mundo. Liquefarei a dor.

3 comentários:

fjunior disse...

virastes até poeta.

Unknown disse...

Ótimo texto. Parabéns. Belo retorno... Espero que não nos deixe a ver navios portanto tempo outra vez. =)

Adriana Gehlen disse...

me lava chuvinha!