Meu trabalho era ficar sentado na frente de um computador e recepcionar cretinos fracassados sofrendo do último resfolegar de esperança capitalista. O chamariz era um cartaz que o nosso curso espalhou pela cidade com a foto de um cara branco, bem vestido e com sorriso cepacol, oferecendo curso profissionalizante gratuito. Mas não bastava vir até aqui e pedir o curso. No cartaz dizia que era preciso repetir a frase: "Quero Ganhar Educação Profissionalizante Gratuita e de Qualidade". Ou seja, além do cabra não passar de um fodido procurando salvação em cartazes publicitários, ainda tinha que desperdiçar sua última gota de dignidade afirmando em alto e bom som que não podia pagar pelo curso.
Mas até que a promoção veio em boa hora. As coisas andavam meio monótonas e eu acabava passando a maior parte do meu dia escrevendo estórias de sacanagem. Sim, escrevia estórias bem sacanas e enviava por e-mail para minhas colegas de trabalho, para que elas pensassem que eu era bom de cama e resolvessem me dar. Nunca funcionou, mas soube que a Carlinha do administrativo se masturbou com minha estória sobre uma suruba no circo, envolvendo anões, macacos e mulheres barbadas. Foi o máximo que consegui. Quando perguntei se ela queria sair comigo, a desgraçada respondeu que entre dar pra mim e pro anão do circo, preferia o anão.
Só sei que depois desses cartazes o curso começou a ficar movimentado. De cinco em cinco minutos entrava alguém e recitava a maldita frase. Aí eu pegava um formulário de quatro longas páginas, que perguntava de tudo, até se o cara tinha oxiúrus, e dava para o fracassado em questão preencher. Mas como eu só tirava seiscentas pilas naquela merda de emprego e a maior promoção que eu poderia conseguir era para o administrativo, onde eu ganharia cem pilas a mais e passaria o dia digitando aqueles malditos formulários pra saber quem tinha oxiúrus, resolvi me divertir um pouco. O cartaz dizia pra pessoa repetir a tal frase, mas não fomos orientados pela direção a exigir isso. Só que os cretinos que apareciam ali eram tão derrotados que arriariam as calças se eu mandasse. Mal sabiam que o tal curso gratuito era uma introdução pro curso de verdade, que era - adivinha! - pago.
Lá pelo meio da tarde, entrou um senhor grisalho de roupa social, aparência digna e ar respeitoso.
- Bom dia, meu jovem. Estou interessado naquele curso gratuito que foi anunciado.
- E a frase?
- Que frase?
- Tem que dizer a frase.
- Do anúncio? Desculpe, mas não me lembro.
- Lá diz que tem que repetir a frase.
- E qual é?
- Não posso dizer.
- Mas que diferença faz? É só uma frase.
- Regras são regras.
- Eu vi o anúncio num outdoor, mas não me lembro aonde.
- Tem um na Monsenhor Félix.
- Tão longe?
- E nesse sol, né?
Vi nos olhos dele o desejo primitivo de mandar eu me foder, mas não mandou. Saiu porta afora.
Pouco depois, apareceu uma gorda de uns vinte e poucos anos. Nossa! Vinte anos e gorda. Os melhores anos de uma mulher soterrados debaixo de toneladas de gordura. Fiquei me perguntando se alguém a comia. Duvido. Na melhor das hipóteses vai se casar aos trinta, virgem, com um cara que enjoou de comer garotas magrelas e resolveu comprar uma casa financiada e um cachorro de petshop. Para uma vida dessas, nada melhor que uma esposa gorda.
- Quero Ganhar Educação de Qualidade Gratuita e Profissionalizante.
- Tá errado.
- O que tá errado?
- A frase. Não é assim.
- Como não? Eu decorei!
- Escuto essa frase mil vezes por dia. Sou capaz de dizê-la tendo um orgasmo.
- E como é?
- Pra ter um orgasmo? Emagrece.
- Como é A FRASE!?
- Não posso dizer.
- Já sei! Quero Ganhar Educação Profissionalizante Gratuita e de Qualidade.
- Agora sim.
- Onde eu preencho?
- Já era. É uma chance só.
- Não diz isso no anúncio!
- Minha querida, numa boa, chega aqui pertinho de mim... Pra que nós vamos gastar dinheiro profissionalizando alguém que não consegue decorar uma frase de oito palavras?
Saiu batendo a porta. Incrível como ninguém mandava eu me fuder. Meia-hora depois o senhor grisalho voltou. Tinha a testa, o pescoço e a camisa encharcadas de suor.
- O senhor está fedendo. - eu disse.
- Quero Ganhar Educação Profissionalizante Gratuita e de Qualidade.
- Preenche isso aqui.
Ele ficou lá, escrevendo e bufando e pingando e empesteando a sala.
- Nunca conheci alguém tão desprezível quanto o senhor. - ele disse.
- Sabe, acho que vou usar sua ficha de cadastro pra limpar a minha bunda. - eu disse. E me levantei.
- O senhor... O senhor me desculpe.
- E não é que meu deu vontade de ir ao banheiro? - e ergui a ficha dele no ar.
- O que mais o senhor quer? Que eu beije seus pés? Eu beijo! Eu beijo!
- Tudo bem. Pode ir. Vou entregar sua ficha.
O homem continuou ali, parado, me olhando.
- Pode confiar, caralho! Eu tô falando.
O homem deu uma dúzia de passos vagarosos para trás, sem tirar os olhos da ficha, que eu mantinha suspensa no ar, até finalmente cruzar a porta, de costas. Assim que sumiu, rasguei a ficha e joguei no lixo. Saibam que isso foi um ato de respeito.
Dias depois eu estava empolgado com minha nova estória sobre russas peitudas e americanos retardados que se encontravam numa estação espacial e faziam suruba em gravidade zero. A Carlinha do administrativo ia se amarrar! Eram quase oito da noite e eu estava sozinho no curso. O gerente tinha saído mais cedo e pedido para eu fechar tudo. Faltava pouco para eu terminar mais uma obra-prima da putaria literária bagaceira. Bem na hora que a porra ia flutuar no espaço, entraram duas garotas correndo pela porta, saltitando e sorrindo feito gazelas no cio. Com sorte tinham seus dezoito. Queimadinhas de sol, cabelinhos longos, calças apertadinhas, topzinhos coloridos tensionando os seios recém inflados pela mamãe-natureza.
- Fechou? - perguntou a mais gostosa.
- Fechou. - respondi, sem olhar pra cara dela.
- A gente veio se cadastrar naquele curso gratuito. - disse a menos gostosa.
- E a frase?
- Eu não disse que precisava da frase? Eu disse! - disse a menos gostosa à mais gostosa. - Vamos ter que voltar amanhã.
- Hoje era o último dia da promoção. - eu disse, mas era mentira, claro.
- Ai, meu pai vai me matar! - disse a mais gostosa - Ele passou o mês inteiro mandando pra eu vir aqui. Sério. Ele vai me matar!
- O meu também. - disse a menos gostosa.
- Nesse caso, acho melhor vocês se refugiarem lá em casa. - eu disse.
Elas soltaram uma risadinha de mamãe-quero-ser-puta.
- Então, - falou a menos gostosa (que a essa altura também já era gostosa pra caralho, ou era o sangue que me faltava no cérebro por estar indo aos litros rumo aos países baixos) - você tem como inscrever a gente, assim, tipo, se você quiser, né?
- Mas por que eu ia querer um troço desses?
Bem, o resto vocês podem imaginar. Não, não podem! Eu levei as duas pra sala do chefe. E garanto que não tem coisa melhor nesse mundo que comer duas molecas safadas na sala do seu chefe. Melhor que gravidade zero, melhor que suruba no circo. E elas ACABARAM comigo. Eram loucas, insaciáveis. Bocas, pernas, mãos e línguas me derrotando a cada instante. Num dado momento, as duas desistiram de mim e ficaram lá, se pegando entre elas, enquanto eu, jogado no canto, sugado, extenuado, seco até o talo, só gemia e pedia clemência.
Alguns dias depois, o chefe me chamou na sala dele. Sempre que ele chamava alguém na sala dele era pra mandar embora. Não tinha erro.
- Seremos processados por duas garotas que afirmam ter sido coagidas a fazer sexo em troca do curso gratuito.
- E?
- Você fez sexo com elas?
- Sim.
- E diz isso com essa cara deslavada?!
- O senhor também comeria.
- Eu sou pai de família! Veja lá como fala!
Eu não conseguia ficar nervoso nem nada. Ele estava sentado na mesma cadeira que eu quando as duas rebolaram em cima de mim com suas bundinhas queimadas de sol. Na mesa onde ele repousava os cotovelos, as duas tinham se lambido feito loucas. Aquela sala só me trazia boas recordações.
- Você nos deve um pedido público de desculpas! - ele gritou. - Meu telefone não para de tocar! São dezenas de acusações de constrangimento, humilhação e o diabo.
- Eu vou ser mandado embora?
- Mas o que você acha? - ele disse, a voz esganiçada, o ar quase acabando. Ele tinha nos olhos o mesmo brilho selvagem do senhor grisalho. Ele estava quase estourando as hemorróidas de tanto ódio.
- Então enfie suas desculpas no rabo!
Levantei e saí. Depois que cruzei a porta, ouvi berros e barulho de coisas sendo jogadas contra a parede e vidros se quebrando.
Na semana seguinte, havia uma página inteira de jornal tomada por um comunicado: os ofendidos receberiam bolsas de cem por cento no curso que bem escolhessem. A Carlinha do administrativo me contou que depois desse comunicado apareceu tanta gente reclamando que eu teria comido por volta de 19 meninas sob coação, feito 8 surubas na sala do chefe, discriminado 21 negros, xingado 13 idosos e agredido 3 deficientes físicos. Fora a gorda ofendida, que nunca se manifestou. O dono do curso achou melhor fechar as portas. Todos foram demitidos e agora querem me matar. Com exceção da Carlinha do administrativo, que adorou a ideia de trepar com um louco, maníaco e depravado. E que ninguém venha desmentir meu currículo.
dezembro
-
na praia
menstruada
quarto dia tem um momento em que tudo
Vaza
último suspiro
depois do terceiro, um hiato
parece que terminou
Dessa vez
menos tempo, m...
Há 11 meses
2 comentários:
Eu NÃO quero um curso profissionalizante gratuito. Está claro? hehehe
mas é verdade isso do curso? [1]
ô.
como sempre :
Sim, escrevo estórias bem sacanas e mando por e-mail para algumas conhecidas, para que elas pensem que eu sou bom de cama e resolvam me dar."
te confesso que isso ajuda muito.
mas é verdade isso do curso? [2]
uahuhauahuaha
já parei.
muito massa.
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